"Os leitores extraem dos livros, consoante o seu caráter, a exemplo da abelha ou da aranha que, do suco das flores retiram, uma o mel, a outra o veneno." Nietzsche

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

OS HISTORIADORES E OS ACONTECIMENTOS


Os historiadores atribuem diversos sentidos aos acontecimentos históricos. Os exemplos são vários. De uma maneira geral, a noção de acontecimento parece ser fundamental para a história ser passível de ser pensada e enquanto forma de conhecimento válido, não podendo ser simplesmente descartada. Para os historiadores da Escola Metódica, a noção de acontecimento exercia um papel central na concepção e na escrita da história. O acontecimento era o conceito principal, em torno do qual se organizava uma narrativa linear, cronológica e evolutiva. Para esses historiadores, o acontecimento, acessível objetivamente através dos documentos, fornecia a chave para a compreensão da história, esta majoritariamente centrada nos acontecimentos políticos e nos grandes personagens.
Esse paradigma de história “acontecimental” (événementielle) foi duramente criticado pelos historiadores dos Annales, que legaram ao acontecimento um papel, se não secundário, ao menos superficial para a compreensão histórica. O interesse se desloca dos acontecimentos em si para uma tentativa de entendimento da história mais voltada para a questão das estruturas sociais e econômicas. O annaliste Braudel distinguia o tempo dos acontecimentos do tempo das conjunturas e estruturas (longa duração), sendo aquele fundamentalmente instantâneo, célere e superficial. Outro paradigma teórico importante é o marxismo, que considerará o acontecimento no contexto de uma totalidade e de um processo histórico, tendo como elemento principal não o acontecimento, mas a conflitualidade e a luta de classes.
Portanto, o acontecimento não deixou de ser considerado pela historiografia contemporânea. Nesse sentido, os eventos têm papel simbólico significativo, mas que varia de acordo com os princípios epistemológicos e teóricos de cada historiador e/ou historiografia. Para Paul Veyne (1995, p. 11) “a história é uma narrativa de eventos: todo o resto resulta disso”. Para este historiador a especificidade dos eventos e sua organização em tramas compreensíveis tem papel fundamental para a escrita da história. Os eventos estão, assim, simbolicamente situados em uma esfera de diferenciação que estabelece sobre um fundo de uniformidade.

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